Por meio de ações, qualificação e parcerias, o Senac atua para a inclusão de profissionais e alunos trans no mercado de trabalho
Em 29 de janeiro é celebrado o Dia Nacional da Visibilidade de Travestis e Transexuais. A data foi instituída em 2004, para marcar a luta pela garantia de direitos, pelo reconhecimento de suas pautas, identidades e visibilidade. A data também busca sensibilizar a população a enxergar os crimes de ódio que são cometidos contra a comunidade trans. Segundo a Associação Nacional de Travestis e Transexuais (Antra), a cada 48h, um travesti ou mulher transexual é assassinada em nosso país. Por isso, a expectativa de vida da população trans no Brasil seja a menor do mundo: em torno de 35 anos.
A falta de inclusão acarreta, entre vários desdobramentos, a dificuldade de acesso ao mercado de trabalho. De acordo com o Relatório da violência homofóbica no Brasil, divulgado pela Secretaria de Direitos Humanos da Presidência da República (SDH), 90% das pessoas trans recorrem a prostituição como profissão, em algum momento da vida. Uma das propostas para modificar essa realidade é a capacitação profissional, visando garantir oportunidades e equidade.
Travestis e Transexuais no mercado de trabalho
Por causa do preconceito e da estigmatização, a procura por um emprego formal se tornou um caminho de exclusão para as pessoas transgênero. Segundo a Antra, 20% da população transsexual está fora do mercado de trabalho. Mesmo com a Lei nº 7.716/89, que prevê os crimes resultantes de preconceito e discriminação, muitas empresas ainda não se adequaram a normalização e recepção dessa comunidade.
A Coordenadora de Educação Inclusiva do Senac, Juliana Gaudêncio, evidencia que as empresas se beneficiam com a contratação de um público diverso. “Resultados positivos foram obtidos em empresas onde líderes promovem a diversidade e se mostram comprometidos com a inclusão em suas equipes. Pessoas diversas no ambiente de trabalho trazem mais engajamento, criatividade e entregas, além da marca ser mais lembrada pelos consumidores. Pessoas trans querem muito trabalhar e possuem total competência para tal, basta um processo seletivo adequado.” Juliana ainda destaca que por possuírem vivências e pensamentos distintos da maioria, os colaboradores trans contribuem para diferentes perspectivas na tomada de decisão.
Oportunidades e inclusão
Consciência de sua atuação social, o Senac em Minas realiza ações para que a inclusão dessas pessoas ocorra de fato. Atividades de acolhimento, apoio e sensibilização são executadas para gerar mais equidade e oportunidades. A gestora explica que “além das ações e adaptações para receber esses grupos na instituição, as equipes do Senac são permanentemente preparadas para acolhê-los”.
A instituição também atua em prol da causa por meio de parcerias. O Senac, juntamente ao Shopping Cidade e outros agentes, participa da Capacitação e Inclusão de Mulheres Trans no mercado de trabalho com o propósito de promover oportunidades de emprego para mulheres transgênero nas lojas do shopping, administração e empresas terceirizadas. Juliana Gaudêncio afirma que “em 2022, em parceria com a Defensoria Pública de Minas Gerais, recebemos mulheres trans em nossos cursos para serem capacitadas e terem a oportunidade de ingressar ou reingressar no mercado de trabalho. Esta parceria deverá ter continuidade em 2023, pois, somente com a educação transformamos e incluímos vidas”.
Inclusão na prática
Respeitar o potencial das pessoas é o primeiro passo para acabar com o preconceito. Rafa Marques, docente do curso Técnico em Enfermagem do Senac em Coromandel, salienta que o acesso à informação tem mudado o mercado de trabalho. “Está mais aberto à inclusão. O maior ganho é dar o poder da voz para uma minoria, que por décadas vem sendo calada, violentada e oprimida por uma sociedade carregada de estigmas e preconceitos.”
Rafa Marques avalia ainda que a sua trajetória no Senac contribui e influencia a inclusão de outras pessoas: “Poder ter uma mulher trans como docente de um curso traz visibilidade e mostra para todas as comunidades LGBTQIA+ que podemos estar e conquistar tudo por meio da educação e da profissionalização”.
Um dos destaques da 4ª Edição das Competições Senac de Educação Profissional - Etapa Estadual, a estudante Sara Isabela, aluna do Curso Técnico de Cabeleireiro do Senac em Conselheiro Lafaiete, concorda e avalia que sua presença em sala de aula contribuiu para que outras meninas e meninos participem e tenham a mesma oportunidade que ela teve. “O Senac me deu essa segurança e essa possibilidade, de executar e trabalhar da melhor forma, sendo eu mesma, sem restrições. Isso é algo muito bom porque dá uma confiança. É um acolhimento, é um abraço que a gente recebe e é válido para todas as pessoas.”
O maior desafio da inclusão na prática é a marginalização que a sociedade criou sobre Travestis e Transexuais. Rafa ressalta para a população trans que “temos que mostrar que somos iguais, vivemos na mesma sociedade, pagamos impostos, trabalhamos e fazemos nossa parte social. Oportunidades e educação mudam vidas”. Nesta mesma linha, a estudante Sara Isabela aponta também que “são pessoas que querem agregar e querem trabalhar. É muito importante englobar esses profissionais e mostrar que não existe diferença no trabalho, que todos nós somos iguais”.
De acordo com a docente Rafa Marques, há ainda um caminho a percorrer para tornar essa inclusão uma realidade. “No contexto atual, a importância da luta da população trans é uma forma de resiliência à frente de toda a causa.”
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